Como Lidar com a Rejeição no Mundo do Design Gráfico
Agora que nos aproximamos da época mais assustadora do ano, falamos do tema que mais arrepios causa na espinha dos designers: a rejeição. Nada faz um designer tremer mais do que um “Não era bem isto” ou um “não gosto muito”.
Quando desenvolvemos projetos criativos que, embora sustentados em experiência, know-how e estratégia têm, ainda assim, uma componente subjetiva, vamos ser confrontados com rejeição por parte dos clientes. Uma proposta pode ser recusada por vários motivos, desde os mais lógicos e sustentados – o briefing não foi bem compreendido ou falhamos em compreender a necessidade da empresa – aos mais desconcertantes – a esposa do cliente não gosta da cor.
Neste artigo d’O Raio do Blog vamos explorar algumas estratégias para prevenir o tão assustador “não” e, também, algumas formas de lidar com essa inevitabilidade.
A comunicação é a chave
A base de qualquer relação bem-sucedida é a confiança e a comunicação e a relação entre designer e cliente não é exceção. Logo no arranque da colaboração, é importante deixar o cliente à vontade para expressar as suas necessidades, expetativas e feedback, estabelecendo uma relação de parceria mais do que de fornecedor / cliente.
Dica: um moodboard pode ser uma ferramenta muito útil para arrancar um projeto com o pé direito e perceber se estamos alinhados com o cliente.
O primeiro passo: ouvir
É importante aceitar que nem todas as ideias e conceitos vão ser aceites pelos clientes. Mesmo com um briefing completo, análise de concorrência, uma estratégia e posicionamento bem definidos e uma execução criativa e profissional, por vezes, o resultado não vai agradar.
Quando o cliente rejeita uma proposta ou ideia, o primeiro passo é entender o porquê. O projeto desenvolvido não vai satisfazer as necessidades? Algum aspeto do briefing não foi bem entendido? Ou trata-se, apenas, de gosto pessoal?
Antes de adotar uma postura defensiva e justificar o racional que levou à execução da ideia, é importante perceber porquê que o resultado apresentado foi rejeitado.
Algumas perguntas para compreender o que correu mal:
- Que aspetos específicos do design sente que não funcionam para o seu negócio?
- Há algum aspeto do que foi apresentado que correspondeu ao esperado e que possamos manter?
- Pode fornecer exemplos visuais ou referências que ilustrem o que tinha em mente?
- O que sente que este design transmite e que não está de acordo com o que seu negócio pretende transmitir?
Ao tentar compreender o cliente, devemos fugir de questões como “O que não gosta?”: quando trabalhamos para o negócio de um cliente, os pressupostos devem ser estratégicos e fundamentados e não uma questão de gosto pessoal. Trata-se da comunicação de um negócio, num contexto e mercado, não de uma peça de decoração para a casa do cliente.
E é neste momento que tudo se complica: devemos defender o trabalho executado ou avançar com novas ideias? Bem… depende!
Escolher as batalhas
No ponto anterior, reforçamos que é importante ouvir o ponto de vista do cliente e é de acordo com o feedback obtido que devemos proceder. Desistir imediatamente da proposta apresentada pode sugerir falta de confiança no trabalho (o que diminui a confiança do cliente) ou mostrar que o resultado apresentado não foi devidamente pensado.
Por outro lado, é importante ser flexível e estar disposto a adaptar o projeto conforme o necessário para atender aos objetivos do cliente e ao feedback passado.
Como defender ideias sem parecer inflexível:
- Apresentar argumentos racionais: justificar o processo que levou ao resultado, utilizando dados recolhidos na pesquisa de mercado e análise de concorrência, princípios de design reconhecidos ou tendências do setor;
- Mostrar alternativas: apresentar alterações ou melhorias que levarão o resultado de encontro ao que o cliente espera, sem comprometer a qualidade;
- Educar o cliente: explicar as escolhas feitas e como estas podem beneficiar o projeto a longo prazo e, se necessário, desfazel alguns mitos associados ao design.
É importante reconhecer quando vale a pena lutar por uma ideia e defender uma execução e quando, de facto, há algo no projeto que não vai de encontro ao que é mais estratégico para o cliente. Mesmo considerando que o projeto apresentado é o correto, por vezes, é necessário ser flexível para garantir a satisfação do cliente e manter uma boa relação.
Dicas para saber quando insistir ou ceder:
- Priorizar os objetivos do projeto: se as mudanças solicitadas não comprometem os objetivos principais do projeto nem vão comprometer a qualidade do resultado, ceder e avançar é o melhor caminho;
- Reavaliar a importância de detalhes específicos: nem todos os aspetos de um projeto são igualmente importantes, por isso devemos manter o foco nos elementos essenciais, mais estratégicos, e comprometer em detalhes secundários;
- Ser pragmático: por vezes, a melhor decisão é simplesmente entregar o que o cliente pede, especialmente quando os prazos são apertados, as alterações são muitas e o custo do projeto ultrapassa o orçamentado
Aceitar o não
A rejeição pode ser difícil de lidar emocionalmente, especialmente quando se investiu muito tempo e esforço num projeto ou quando não concordamos com os motivos do cliente. Pode, também, ser um golpe para a auto-confiança no nosso trabalho.
Embora não seja agradável, um não pode ser visto como oportunidade de crescimento: ao compreender as motivações do cliente, podemos ficar mais esclarecidos sobre a indústria em que trabalha, que tipo de expectativas formulou, como podemos trabalhar uma ideia mais robusta no futuro.
Estratégias para lidar com o impacto emocional:
- “Não és tu, é ele”: a rejeição de um projeto não é pessoal nem está diretamente relacionada com a qualidade entregue. Muitas vezes trata-se apenas de falta de adequação às expectativas específicas do cliente.
- Procurar feedback construtivo: pensa na rejeição como uma oportunidade para aprender e crescer, requisitando ao cliente feedback específico sobre o que poderia ser melhorado;
- Não te martirizes: não sejas duro contigo próprio. Ninguém acerta 100% das vezes. Receber um “não” faz parte do processo criativo, principalmente numa área com algum grau de subjetividade.
Ninguém gosta de se dedicar a um projeto de corpo e alma e receber um feedback negativo. É fácil desanimar e seguir um de dois caminhos: cultivar a frustração pelo cliente que não aceitou as nossas ideias, comprometendo a relação e o resto do projeto, ou alimentar o nosso Síndrome de Impostor, destruindo a auto-confiança no nosso trabalho.
Nenhum destes destinos é construtivo ou nos melhora enquanto profissionais, por isso, se não conseguimos evitar um ou outro “não” (e ninguém consegue), só podemos aprender a gerir melhor as nossas próprias expectativas e separar o profissional do emocional.
No fim de contas, a dor de um “não” é algo positivo… quer dizer que ainda temos paixão pelo que fazemos, certo?
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Vera Oliveira
Project Manager
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